A palavra crise, normalmente empregada para designar as transformações ou mudanças, é para lá de inadequada para os tempos presentes. Bem mais do que o paroxismo do caos entre dois momentos de estabilidade, de fato estamos todos submetidos a um novo tempo: mudanças sustentáveis transformam profundamente o equilíbrio econômico e político tanto quanto o conjunto das relações sociais.
A crise se transforma em permanente, um dado constante do cotidiano da existência humana. Mas esta não é a única mudança: o modelo da sociedade de mercado que inspira o atual desenvolvimento do capitalismo não remete mais ao projeto primitivo de sociedade contido no espírito da Carta à Igreja de Filadélfia ou dos primórdios da Revolução Industrial no Século XVIII.
Em verdade, há uma nova razão de mundo que se impõe, não somente uma política econômica que proporciona ao comércio, às finanças e aos serviços um papel preponderante. Trata-se de uma questão bem mais complexa, sutil e sofisticada: a maneira como vivemos, sentimos, pensamos e agimos; a maneira como somos condicionados a nos comportar, a nos relacionar, e até como nos autopercebemos.
Esta forma inusitada de existência, referenciável nas sociedades ocidentais e em todas as que seguem o caminho da modernidade globalizada, impõe a cada um de nós viver num universo de competição generalizada, de confronto cotidiano.
Depois de mais de 30 anos, esta norma de existência social no mundo das organizações e no universo da sociedade preside as políticas públicas e as práticas empresariais, comanda as relações econômicas, transforma as relações sociais, remodela a subjetividade, plasma, forma e deforma o novo homem do Século XXI.
A exacerbação ao culto da tolerância zero com uma cultura que não seja de alto desempenho, redunda, o mais das vezes, em culpabilizar os colaboradores, criticar sistematicamente seus comportamentos, definir objetivos e metas crescentemente inalcançáveis, avalia-los sempre com ênfase nas dimensões negativas até que se submetam à nova ordem, desistam de reagir ou peçam demissão.
É dentro deste contexto bastante conturbado que os profissionais de Administração precisam se referenciar e agir. O que fazer diante de tais circunstâncias absolutamente inusitadas? Continuar preso às referências do passado é circunscrever-se ao museu de novidades e ao amanhã de anteontem de um anacronismo que insiste em prevalecer na realidade das organizações e no conjunto da sociedade.
*Adm. Wagner Siqueira é conselheiro federal pelo Rio de Janeiro e atual presidente do Conselho Federal de Administração
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