Qual o paradeiro dos líderes? Eles possivelmente estão por perto, mas nós não os enxergamos. Torna-se difícil identificá-los, na medida em que sua autoridade e autonomia se acham cada vez mais tolhidas por forças sobre as quais eles exercem pouco ou nenhum controle. Esta é uma constatação dramática de um problema nacional que ameaça transformar-se em catástrofe para o País.
Os escândalos de todos os dias, amplamente trombeteados pela imprensa, têm gravitado em torno de duas questões centrais, vitais para o nosso cotidiano: a corrupção generalizada – governamental e empresarial – e o vazio de lideranças.
A falência moral do establishment e do mundo corporativo, tanto no setor público quanto no de negócios, está a exigir um gigantesco esforço de recuperação, que somente será viável se as instituições públicas e empresariais contarem não só com gerentes ou executivos, mas com líderes dispostos a assumirem os destinos da sociedade.
É preciso o levantar de trincheiras concretas em defesa da regeneração do pensar e das atitudes, dos comportamentos e das ações de governo, dos Poderes da República, das empresas, das Ongs e das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), de organizações pias, de benemerência e religiosas, enfim, de todas as organizações, e, simultaneamente, destacar e exaltar as referências de lideranças autênticas para a construção de um novo tempo.
Embora os motivos tenham diferentes intensidades, profundidades e focos, os líderes estão escasseando em nosso País, para não dizer em todo o mundo.
A liberdade de que a liderança necessita como espaço vital de ação é cada vez menos compatível com os condicionamentos impostos às funções de um alto dirigente, tanto na área governamental quanto na empresarial. Falo da liberdade responsável. Não falo dos déspotas, dos autocratas, dos libertinos e dos corruptos. São exatamente eles, cujo único objetivo é o poder pelo poder, o poder sobre e a despeito de qualquer compromisso com o bem comum, que comprovam a rarefação dos líderes. Os autocratas afloram e vicejam, medram e “pedram” no poder exatamente porque há um vazio de liderança.
Raramente alguém tenta mudar a direção, a natureza, o caráter ou a cultura, a missão de suas organizações. As lideranças brasileiras são pródigas em dicotomizar o dizer e o fazer, para muito falar e pouco agir. São incapazes de perceber além do trivial, do imediato, do paroquial e do provinciano. Podem até mudar, mas não inovar; aperfeiçoar o passado, mas não modelar o futuro. Pensam no amanhã com os olhos no retrovisor do ontem.
Os líderes de verdade raramente sobrevivem nas organizações castradoras da sociedade atual. Por isso, nossas organizações são repletas de executivos, mas vazias de líderes. Por isso, sucumbem dóceis ao autoritarismo do “quem manda sou eu”, de qualquer audaz prepotente. Logo passam a servi-lo, quando não a endeusá-lo. Isto acarreta um enorme risco ao desenvolvimento de organizações e sociedades dinâmicas, menos pelo líder autoritário considerado isoladamente, mas pela doutrinação ideológica que o sustenta e das massas de seguidores que o apoiam. Líderes assim só entendem “o poder sobre”; não conseguem perceber “o poder com”.
É por isso que o verdadeiro líder se sente mais empoderado ainda num contexto de líderes e não numa curriola de abúlicos.
O líder medíocre percebe o poder como algo finito, como um bolo que, à medida em que for repartido, somente poderá diminuir. Por isso, fundamentalmente por isso, tantos dirigentes de topo nas organizações públicas e privadas são medíocres; e tantos medíocres são executivos no mundo das organizações e no universo da sociedade.
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