A recente crise energética em São Paulo, com blecautes que deixaram milhares de pessoas sem eletricidade, escancarou a fragilidade da infraestrutura elétrica brasileira. O problema vai além da concessionária ENEL, revelando um sistema arcaico que se esconde sob o emaranhado de fios nos postes. Essa desordem, além da poluição visual, aumenta o risco de acidentes e dificulta a manutenção, como comprovam os 25.127 acidentes com fiação registrados pela ANEEL em 2022, resultando em 660 mortes. E a ironia: a Flórida, recentemente atingida pelo furacão Milton, teve menos imóveis sem energia elétrica do que São Paulo no dia 12/10.
No Brasil, estima-se que 10 milhões de postes, de um total de 50 milhões, estejam abarrotados de fios, criando um cenário caótico que contrasta com o desenvolvimento urbano. Enquanto prédios modernos se erguem, a fiação aérea permanece como um símbolo do atraso e da falta de investimento. O caso de São Paulo ilustra como essa desorganização agrava o impacto de eventos climáticos, prolongando o tempo de resposta das equipes técnicas e colocando em risco a segurança da população.
Mas as consequências da ineficiência na gestão energética vão além dos riscos à segurança. As interrupções no fornecimento de energia geram perdas financeiras significativas para empresas e indústrias, prejudicando a produtividade, comprometendo equipamentos e impactando negativamente a economia como um todo. Os custos com a falta de energia elétrica podem ser contabilizados em milhões, afetando desde pequenos negócios até grandes empresas, com prejuízos que se refletem em toda a cadeia produtiva.
É importante destacar também que a responsabilidade pela desordem da fiação não é exclusiva das concessionárias de energia elétrica. As empresas de telecomunicações também contribuem para o emaranhado de fios nos postes, instalando cabos de internet e telefonia sem o devido planejamento e organização. É fundamental que essas empresas compartilhem a responsabilidade pela modernização da infraestrutura, investindo em soluções mais eficientes e seguras, e que a ANEEL amplie sua atuação, fiscalizando e regulamentando também a instalação de cabos de telecomunicações.
Embora a ENEL precise modernizar sua infraestrutura, a responsabilidade também recai sobre os órgãos reguladores, como a ANEEL, e sobre a falta de investimentos públicos e privados. O cabeamento subterrâneo, solução adotada em diversas cidades pelo mundo, ainda é pouco explorado no Brasil devido ao alto custo inicial. No entanto, seus benefícios a longo prazo, como segurança, eficiência e menor necessidade de manutenção, superam os custos.
É hora de questionar a gestão da rede elétrica no país. A ANEEL precisa ser mais incisiva na fiscalização e as concessionárias devem adotar uma visão de longo prazo, priorizando a segurança e a qualidade de vida da população. Afinal, não podemos esperar por um furacão para perceber a urgência de uma mudança.
Adm. Wagner Siqueira
Presidente do CRA-RJ
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