Em meio a uma crise sem precedentes, econômico-social, política, ético-moral, de segurança pública e de degradação em todas as instâncias, o Rio vive paradoxalmente condições objetivas invulgares de se alavancar e sair das circunstâncias degradantes em que se encontra. Não só pela realização das vocações especiais de que dispõe, mas também pelo lobby legítimo que precisa aprender a fazer juntos aos chefes dos poderes executivo, legislativo e judiciário do País, coincidente e simultaneamente ora ocupados por habitantes da Cidade.

Mais do que apenas se reinventar, o Rio pode e deve decididamente recuperar o seu protagonismo no cenário nacional. Basta, apenas e simplesmente, ativar e super ativar suas fantásticas potencialidades.

Há 60 anos a Cidade tem vivenciado um processo ininterrupto de decadência: de Capital da República, como distrito federal, até 1960; para Estado da Guanabara entre 1960-1975; depois, em 1975,  com a fusão e a instituição do Município do Rio de Janeiro, todos realizados exatamente no mesmo espaço geográfico da então Capital do Brasil-Colônia, desde o Século XVIII, do Império e da República, nos Séculos XIX e XX.

Verdadeiras bombas de sucção sucessivamente sempre drenaram recursos da Cidade, por meio de descumprimentos explícitos de compromissos do Governo Federal para com a Cidade do Rio, com a transferência da Capital para Brasília e com a fusão dos antigos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, e a transformação da Cidade em município.

É inacreditável o reiterado silêncio-cúmplice das representações políticas e empresariais, das forças vivas da sociedade civil da Cidade do Rio, durante todos esses sucessivos momentos, em que sempre se colocaram vocacionadas para os interesses nacionais e internacionais, mas com baixíssima preocupação com as questões essenciais da Cidade e da vida de sua população. Num sem número de vezes, apoiaram com entusiasmo medidas pretensamente do interesse do País ou do interior do novo Estado, algumas boas e outras deletérias, mas sempre em flagrantes disfuncionalidade e prejuízos econômico-financeiros para o Rio. E esse haraquiri carioca persiste ainda nos dias de hoje.

A trajetória inversa fez com que a Cidade iniciasse sua vida, nesta última forma como município, com ônus insuportáveis, como, por exemplo, ser o governo carioca o único, no Brasil, que suporta integralmente a universalização do ensino fundamental em sua rede própria. Em oposição, para ilustrar, não é o caso da Cidade de São Paulo em que o governo municipal compartilha com a rede estadual o ensino fundamental. Lá, portanto, o ônus cabe simultaneamente na Cidade de são Paulo a ambos as instâncias de governo.

E assim funciona em todos os demais 5570 municípios brasileiros. E alguns outros exemplos similares poderiam ser elencados para caracterizar a atipicidade do Rio vis-à-vis à realidade onerosa que cabe ao Rio, como também a absorção de alguns dos antigos hospitais federais e do antigo Estado da Guanabara e dos também antigos institutos federais de previdência, localizados na Cidade e  todos jogados no colo da Prefeitura do Rio. São encargos que não se repetem, de forma similar, em nenhuma das capitais brasileiras, nem nos grandes, médios e pequenos municípios do País.

É indispensável que as forças vivas da sociedade carioca pensem, sempre, em reconquistar os recursos próprios que lhes foram indevidamente retirados ao longo do tempo, pois só assim se permitirá em nível da gestão pública municipal viabilizar-se neste contexto de impossibilidades em que vive o carioca.