Os dragões, na milenar cultura chinesa, eram considerados como os responsáveis pelas chuvas e pela fertilidade nos campos. Assim, era comum associar aos dragões uma imagem positiva, embora pudessem provocar grandes tempestades quando enfurecidos.
No Brasil, para os baby boomers em particular, o dragão nos remete a um pesadelo, a uma árdua batalha que foi enfrentada por cada um, contra os altos índices inflacionários que corroíam os salários e obrigavam os trabalhadores e aposentados a uma dieta forçada. Os empresários e gestores financeiros participavam de uma jogatina desenfreada no mercado financeiro (overnight) e deixavam de lado o desenvolvimento de boas práticas de administração. Os governos que se sucederam elaboravam diversos ensaios macroeconômicos. Dívidas pública e externa, taxas de câmbio, juros, correção monetária e indexadores mirabolantes eram manipulados em busca de soluções mágicas que na maioria das vezes se mostraram infrutíferas para aniquilar o dragão.
A taxa de inflação brasileira partiu de uma média de 200% ao ano entre 1982 e 1985 até atingir uma média de 1.300% ao ano entre 1990 e 1994. A maior inflação anual já registrada no Brasil foi de 2.477%, em 1993. Desde 1981 o Brasil teve seis moedas diferentes e 16 ministros da Fazenda. Diante da escalada inflacionária, palavras como “recorde” e “histórico” eram frequentes nas manchetes dos noticiosos. A inflação acumulada no País durante a década de 80 foi de 36.850.000%.
Esse processo só foi interrompido em 1994, com a criação do Plano Real. No meio dessa luta apontava a geração X.
Bresser Pereira explica que as taxas de inflação, se não forem controladas no seu nascedouro, tendem a crescer exponencialmente. “A aceleração da inflação ocorre inicialmente em consequência de excesso generalizado de demanda ou de choques de oferta que se propagam por toda a economia. Persistindo essa aceleração por algum tempo os agentes econômicos tenderão a criar expectativas de que essa aceleração continuará a crescer. Teremos então um processo de espiral inflacionária, ou seja, de taxas de inflação sempre crescentes”. Ambiente esse muito propício para que empresários oportunistas elevem suas taxas de ganância.
Os brasileiros pertencentes às gerações Y e Z, felizmente, não conviveram com esse ambiente inflacionário que conteve o consumo no Brasil e os sonhos de muitas famílias que se sacrificaram para garantir as necessidades básicas de sobrevivência.
Muitos desses jovens, hoje bem sucedidos empresários ou profissionais liberais, conhecem apenas os inofensivos dragões Smaug, Eragon, Tiamat e Draco, personagens de livros, desenhos e filmes de cinema. Foram educados e cresceram em um cenário de razoável estabilidade e participam desde cedo da sociedade do consumo. Esse é o perigo! Estarão preparados, técnica e psicologicamente, para enfrentar um voraz dragão que ameaça ressuscitar na vida real? Salve Jorge?
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