No cerne do capitalismo contemporâneo emerge uma tendência preocupante: o crescente parasitismo financeiro que mina a vitalidade da economia real. Empresários, seduzidos pela ilusão de lucros rápidos, abandonam o investimento produtivo em suas próprias empresas em favor da especulação no mercado financeiro.
Essa inversão de prioridades transforma a natureza das empresas, que passam a servir aos interesses do rentismo em detrimento da produção de bens e serviços. Ativos reais, outrora pilares da economia, são reduzidos a meros instrumentos para a geração de lucros especulativos.
Empresas que deixam de investir em si mesmas estagnam-se, sacrificando produtividade e inovação. Esse dreno de recursos produtivos assemelha-se a um parasita que, ao sugar a riqueza da economia real, enfraquece seu hospedeiro. O resultado é a deterioração da capacidade produtiva, transformando o capital em mero patrimônio inerte.
O rentista moderno, que se autodenomina capitalista, assemelha-se mais ao usurário shakespeariano de “O Mercador de Veneza”: um especulador financeiro implacável, distante do capitão de indústria que impulsionou o desenvolvimento econômico no passado.
A cumplicidade entre executivos e acionistas, em busca de ganhos desproporcionais, exacerba a remuneração dos dirigentes, criando uma cultura de “superstars empresariais” que enriquecem a curto prazo, mas condenam suas empresas à ruína a médio prazo.
O favoritismo dos detentores do capital financeiro permeia toda a economia real, distorcendo sua função original. Investidores especulativos, que detêm ações por períodos fugazes, tornam-se proprietários de empresas sem compreender seus negócios ou localização, aprofundando o distanciamento entre o capital e a produção.
É imperativo reconhecer e combater esse parasitismo financeiro, que ameaça a sustentabilidade do sistema capitalista e da real sociedade de mercado. A retomada do investimento produtivo, a valorização da inovação e a busca por um equilíbrio mais justo entre capital e trabalho são essenciais para revitalizar a economia real e garantir um futuro próspero para todos.
A cobiça das organizações voltada centralmente para os interesses exclusivistas de seus acionistas é uma das facetas mais cruéis da mundialização da economia. Uma pilha de dinheiro não cria riqueza, gera mais dinheiro. Quem cria riqueza é o trabalho, a economia real, a produtividade do trabalho real. As discussões e debates do cotidiano na imprensa e nas mídias em geral – e, o que pior, no mundo acadêmico e empresarial – só trata da economia financeira, como se a economia real fosse apenas um simples detalhe.
Adm. Wagner Siqueira é presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro e autor do livro “As organizações são morais?”, publicado pela Qualitymark Editora, disponível pela Amazon nas versões impressa e digital. É Administrador atuante, com uma longa trajetória de trabalho dedicado à profissão, e filho de Belmiro Siqueira, Patrono da profissão no Brasil. Foi Secretário de Administração da Prefeitura do Rio de Janeiro, Presidente do Riocentro e Secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura do Rio, além de exercer muitos outros cargos na Administração pública e privada.
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