Desde o início de seu governo, o Prefeito Crivella hostiliza o Carnaval. Comporta-se como se estivesse no púlpito de sua igreja a demonizá-lo como a expressão da degradação dos costumes. Nem mesmo inúmeros blocos gospels evangélicos pentecostais arrefecem a sua ira contra as comemorações momescas.
Ignora que o Estado é laico, que ele é prefeito de uma Cidade de população cosmopolita, composta por distintos credos e opções religiosas. Pior ainda: desconhece, com a cegueira da paixão religiosa, o impacto do Carnaval na economia da Cidade, seu evento cultural mais relevante; a sua capacidade de mobilizar mão-de-obra, emprego e renda; promover a arrecadação de tributos; impulsionar a vida cultural; e, atrair, em larga escala, o turismo nacional e internacional. O Carnaval é uma vocação intrínseca ao Rio de Janeiro.
As escolas de samba, de todos os grupos, as bandas e blocos carnavalescos, os bailes, o Terreirão e a Cidade do Samba, os concursos de fantasia se espraiam por todos os bairros da Cidade numa ativação econômica e cultural sem igual. E tal fenômeno de mobilização não ocorre apenas no período do evento propriamente, mas seus efeitos se diluem por todo o ano, com os ensaios e a preparação para o ano seguinte, nos barracões e na geração de emprego e renda, na arrecadação dos tributos conexos às distintas atividades realizadas. A Cidade se beneficia o ano inteiro do Carnaval.
O Prefeito Crivella, insensível à realidade e às funções de governante de todos, desconhece, ou se recusa a perceber, que um contingente enorme de transações econômicas são produzidas e captadas pelas bases de arrecadação de impostos, como o IPI, ICMS e ISS, beneficiando os cofres da Prefeitura, e toda uma miríade de atividades formais da Cidade, fontes geradoras desses tributos. Isto considerando apenas as atividades formais, já que as pobres estatísticas oficiais da administração da Cidade ignoram absurdamente a geração de riqueza produzida na economia subterrânea, portanto invisível ao fisco municipal, das atividades de trabalho e renda assumidas por parcela significativa dos agentes econômicos informais.
O setor serviços é o que apresenta maior peso na economia carioca. E o Carnaval é um dos seus maiores indutores. A vinda de turistas para o evento, e ao longo do ano em suas diversas atividades preparatórias, mobiliza o ramo hoteleiro e imobiliário de temporada, com agências transportadoras, de aluguel de veículos e operadoras de viagens, bares e restaurantes, taxis e aplicativos, bares e restaurantes e os pontos turísticos da Cidade. O comércio ambulante se robustece e até se formaliza.
O evento mobiliza uma expressiva gama de profissões e de atividades remuneradas. Parte das necessidades de mão-de-obra é coberta com contratos de trabalho por prazo indeterminado e muitos outros por prazo determinado, ou por natureza de trabalho precário, terceirizado e quarteirizado, para a realização de tarefas específicas em virtude da festa, seja diretamente pelos promotores ou pela contratação de empresas especializadas.
A pandemia do novo coranavírus levou à paralisação das atividades carnavalescas, vivendo hoje o setor uma crise sem precedentes. Isto afeta enormemente a vida da Cidade e a sua capacidade de se recuperar diante da crise. Mas o Prefeito acha que isto não é com ele, dando causa ainda maior à sua hostilidade contra o Carnaval. Pouco se importa que a economia e a cultura da Cidade sejam tão duramente atingidas. Mas, como diz o grande sambista Nelson Sargento, “o samba agoniza, mas não morre”. Vai se “levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima”, no dizer de Paulo Vanzolin. E o Prefeito inimigo do Carnaval passa, ele passará. O Carnaval do Rio renascerá mais forte ainda, vencidas as circunstâncias que hoje o infelicitam. O Carnaval faz parte do DNA cultural e econômico da vida carioca.
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