
Os pedidos de recuperação judicial no Brasil atingiram números recordes em 2024, conforme aponta levantamento da Serasa divulgado há uma semana. Por trás desses dados, há um fenômeno recorrente que desafia a lógica produtiva e expõe as fragilidades do nosso modelo empresarial: a cultura da transferência de riqueza do capital produtivo para o capital improdutivo da economia financeira.
Não é de hoje que assistimos ao esvaziamento do setor produtivo em favor da especulação financeira. Empresários, diante de dificuldades, muitas vezes não buscam recuperar suas empresas para mantê-las operando e gerando empregos, mas sim para se protegerem pessoalmente e, frequentemente, saírem mais ricos do que antes.
A falência ou recuperação judicial, ao invés de ser um processo de reestruturação, torna-se um meio de se desresponsabilizar pelo insucesso dos negócios, preservando e até multiplicando fortunas individuais.
Esse comportamento não é um desvio isolado, mas reflexo de um sistema que premia a financeirização em detrimento da produção. O capital produtivo, que deveria ser a base do desenvolvimento sustentável, perde espaço para ganhos financeiros especulativos, descolados da geração de bens, serviços e empregos. O resultado? Uma economia frágil, sujeita a ciclos de crescimento ilusório e crises recorrentes.
A facilidade com que empresários transferem seus ativos para a pessoa física, mantendo um patrimônio intocado enquanto suas empresas quebram, revela um vácuo regulatório e ético. A legislação permite manobras que protegem os bens dos sócios em detrimento de credores, trabalhadores e do próprio mercado. E o que deveria ser um mecanismo de recuperação econômica se converte em estratégia de enriquecimento pessoal.
A gestão empresarial responsável não pode ser encarada como um detalhe secundário, mas como um pilar para um país mais próspero e justo.