Wagner Siqueira*
Toda vez em que dou uma vista d´olhos na minha biblioteca dos clássicos de administração é como se eu me tornasse um arqueólogo de mim mesmo. A cada livro levanta-se o pó dos anos, de fases de minha vida, de muitos pensamentos e recordações. Mas também quantos ensinamentos, reflexões e propostas inteiramente válidas, tão pouco operacionalizadas pela quase totalidade dos gestores públicos e privados de nosso Brasil.
Cada livro é o passado que vem à tona de repente, de imediato, intacto como uma relíquia e uma aprendizagem, algo a fazer aqui e agora, que muito contribuirá para escapar do círculo de ferro do amadorismo e da improvisação, do “bom senso” que permeia a nossa gestão, independentemente de seu tamanho e complexidade.
Em uma era de distrações e superficialidades, a prática da introspecção profunda torna-se um ato de resistência e autodescoberta. O “Arqueólogo de Si Mesmo” é aquele que se aventura nas camadas do seu ser, escavando memórias, emoções e crenças, em busca de uma compreensão mais autêntica de si.
Assim como um arqueólogo desenterra artefatos antigos, o “Arqueólogo de Si Mesmo” revisita o passado, não para se prender a ele, mas para entender como as experiências moldaram quem ele é hoje. As memórias, tanto as dolorosas quanto as alegres, são fragmentos de uma história pessoal que merece ser revisitada e compreendida. O que lemos hoje tantas vezes têm releituras menos simplistas e mais sofisticadas, uma compreensão mais profunda e universal, construindo novas “verdades” que antes não éramos capazes de perceber.
As emoções são como hieróglifos que precisam ser decifrados. O Arqueólogo de Si Mesmo aprende a identificar e nomear suas emoções, investigando suas raízes e como elas influenciam seus pensamentos e comportamentos. Ao fazer isso, ele ganha maior controle sobre suas reações e desenvolvem distintas outras formas de inteligência que antes não era apto a percebê-las.
As crenças limitantes são como muros que impedem o crescimento pessoal. O Arqueólogo de Si Mesmo questiona suas crenças, investigando suas origens e se elas ainda servem ao seu propósito de vida. Ao desconstruir essas crenças, ele abre espaço para novas possibilidades e transformações.
A arqueologia pessoal não se trata apenas de escavar o passado, mas de integrar o aprendizado no presente. O Arqueólogo de Si Mesmo utiliza as descobertas de sua jornada introspectiva para tomar decisões mais conscientes, construir relacionamentos mais saudáveis e viver uma vida mais alinhada com seus valores e propósitos. Ela o desenvolve ainda mais o indivíduo como pessoa e a pessoa no exercício de sua função gerencial.
A arqueologia de si mesmo não é um destino, mas uma jornada contínua de autodescoberta. A cada nova camada desvendada, novas perguntas surgem, impulsionando o Arqueólogo de Si Mesmo a aprofundar sua busca por autenticidade e significado, de ampliar seu horizonte gerencial, inclusive e especialmente.
Em um mundo que nos convida a olhar para fora, o Arqueólogo de Si Mesmo nos lembra da importância de olhar para dentro. Ao escavarmos as profundezas do nosso ser, encontramos tesouros de sabedoria e autoconhecimento que nos permitem viver uma vida mais plena e significativa.
(*) Wagner Siqueira é o atual presidente do CRA-RJ Conselho de Administração RJ, membro acadêmico da ABCA Academia Brasileira de Ciência da Administração e da ANE Academia Nacional de Economia. É autor, dentre outros, dos livros “Estratégias de Intervenção em Consultoria de Organização”, “As Organizações São Morais?”, “Gerentes que Duram”, “Seitas Organizacionais” e “Os Fariseus de uma Certa Esquerda”.
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