De Wagner Siqueira, presidente do CRA-RJ

O escândalo contábil das Lojas Americanas, que já era grave, ganha contornos ainda mais alarmantes com as recentes revelações da Operação Disclosure da Polícia Federal. A busca pelo ex-CEO Miguel Gutierrez e outros diretores, acusados de fraudes de R$ 25 bilhões, evidencia a profundidade do esquema e a possível participação de diversos níveis da alta gestão.

A descoberta de que as fraudes eram discutidas abertamente em e-mails e mensagens de WhatsApp levanta sérias questões sobre a cultura corporativa da empresa e a negligência dos mecanismos de controle interno. A troca de mensagens sugere que havia uma rede de conivência e que a prática de manipular resultados financeiros era conhecida e tolerada por um grupo significativo de executivos.

A gravidade das acusações e a possibilidade de envolvimento de diretores reforçam a necessidade de uma investigação rigorosa e punição exemplar dos responsáveis. O caso Americanas serve como um alerta para o mercado e para a sociedade, evidenciando a importância de fortalecer os mecanismos de compliance, promover a transparência e garantir a responsabilização dos gestores por suas ações.

A contratação de administradores qualificados, com expertise em gestão de riscos, governança corporativa e ética empresarial, torna-se ainda mais crucial nesse cenário. Esses profissionais podem contribuir para a criação de uma cultura organizacional baseada na integridade, no respeito às leis e na busca por resultados sustentáveis a longo prazo.

O caso Americanas é um triste capítulo na história do varejo brasileiro, mas também uma oportunidade de aprendizado e mudança. É preciso que empresas, órgãos reguladores e a sociedade como um todo se unam para combater a corrupção e promover um ambiente de negócios mais justo, ético e transparente.

(*) Wagner Siqueira é o atual presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ), membro acadêmico da ABCA – Academia Brasileira de Ciência da Administração e da ANE – Academia Nacional de Economia. É autor do livro “As Organizações São Morais?”, dentre outras obras.