As organizações são morais? Não, as organizações não são morais nem imorais. Elas são amorais.
A moral habita um reino. As organizações habitam outro reino bem distinto, o reino econômico.
As organizações são apenas instrumentos, ferramentas ou aparatos institucionais. São uma ficção jurídica, em que se pressupõe pessoas se relacionando com outras pessoas, por meio de usos diferenciados de hierarquia, para a realização de propósitos.
Os indivíduos são os seus senhores: formam, plasmam, conformam, deformam, pervertem ou enobrecem suas realidades.
É um contrassenso julgar que uma organização….
. Seja o mesmo que uma pessoa,
. Que tenha personalidade moral como qualquer pessoa,
. Que possa ser ética e moral,
. Que tenha espiritualidade ou que possa dispor de uma mente coletiva,
. Que possa ser ou não ser feliz.
Uma empresa não age por dever moral e ético, mas na busca de seus interesses.
Por mais ajustada , conforme, ou de acordo que esteja ‘a moral e ‘a ética, a ação da empresa não tem qualquer valor moral e ético. É guiada, realizada e focada por interesses. E o seu interesse central é o lucro. Mais do que o lucro, a finalidade da empresa e’ a finalidade de seus acionistas. É a efetivação dos interesses de seus proprietários.
Uma empresa não tem moral e ética: tem centros de custos e de lucros, tem clientes. Não tem deveres ético-morais: tem interesses e obrigações junto aos seus stakeholders. Não tem sentimentos, afetos ou desafetos, amores ou desamores, não tem amor ao próximo: tem propósitos a alcançar, um balanço em azul a apresentar, o domínio de mercado a conquistar.
Marx quis moralizar a economia, submetê-la ‘a ordem ético-moral. Não deu certo no mundo real. É o que as empresas hoje desejam fazer por intermédio da Responsabilidade Social, da Empresa Cidadã, da Ética Empresarial, do Desenvolvimento Sustentável, do Voluntariado Solidário, do Respeito ao Cliente : apresentar estratégias de marketing empresarial e de construção de imagem como se fossem valores ético-morais. Posam e se auto-apresentam como agentes da transformação social, julgam-se constituir a aristocracia da virtude ao se assumirem como entes ético-morais.
O valor moral de uma ação e’ o desinteresse e a universalidade, exatamente o contrário da empresa, centrada no interesse e no particular.
O capitalismo, a economia, o mercado não precisam de sentido espiritual, e assim também as organizações empresariais como seus braços operacionais. As pessoas, as civilizações, as sociedades sim – e mais do que nunca – precisam de um sentido espiritual, humanista, moral e ético.
Não a empresa ! Os indivíduos que as integram certo e mandativamente dele necessitam.
Não contemos com a empresa para ser moral e ética em nosso lugar, nem no lugar das pessoas em particular e da sociedade em geral.
Há que se fazer a distinção entre moral da empresa e moral na empresa. Mais do que nunca as pessoas que integram o conjunto das organizações precisam ser morais e éticas para que o mundo em que vivemos seja mais fraterno e solidário, menos desigual e desumano.
É justamente porque não existe moral da empresa é que deve existir moral e ética na empresa, construídas permanentemente pelos que nela trabalham e que a dirigem.
O sistema econômico empresarial é feito para criar riqueza. O equívoco é crer que basta a riqueza para construir um processo civilizatório ou mesmo uma sociedade movida por padrões dignos de humanização e de justiça social. Precisamos das instituições e do direito, da moral e da ética, da própria espiritualidade para conter e impor limites ‘a voracidade organizacional pela busca de resultados, do lucro em si, da realização exclusivista dos interesses de seus acionistas, pela busca sempre “do mais”.
Qual é o valor moral do preço de um barril de petróleo, de uma tonelada de soja ou de cacau, de uma saca de café? Não e’ a moral que os determina, mas o jogo econômico, a velha lei da oferta e da procura.
É claro, a palavra moral soa obsoleta, ultrapassada, velha: rebatizada, prefere-se agora falar de direitos humanos, de politicamente correto, de humanismo, de igualdade de direitos, de solidariedade. E, assim, as organizações empresariais surfam nos novos tempos, fazem o discurso de autojustificação, de construção de imagem, de “marketica”, ou seja, das relações incestuosas do marketing e da ética.