Na comemoração do Dia do Trabalho de 2020, em meio à pandemia do coronavírus e à paralisação da economia, mais do que nunca é preciso rediscutir o valor do trabalhador, do emprego e do trabalho na construção de uma sociedade mais justa e minimamente equitativa.

A inovação tecnológica é o principal fator de geração de empregos, mas também de acabar com eles. Permite à economia aumentar a produtividade em níveis inimagináveis, uma verdadeira bênção aos consumidores, mas não para aqueles cujos trabalhos se tornam obsoletos e são extintos. Temos cada vez menos operários em linhas de montagens, costureiras e jornalistas de mídia impressa, vendedores e telefonistas, caixas de banco e soldadores, professores e serralheiros, trabalhadores agrícolas e assim por diante, um déficit que não é compensado pelo aumento de profissões geradas pelos avanços tecnológicos.

O competidor mais ferrenho que um trabalhador pode ter é um robô capaz de fazer o mesmo trabalho de graça, com muito maior rapidez e perfeição, sem exigir direitos trabalhistas e previdenciários.

Essa luta desigual entre os avanços das inovações da tecnologia e a participação da força de trabalho, instituída a partir da criação dos empregos advindos da Revolução Industrial do Século XVIII, cada vez mais avilta o valor dos salários, exclui massas de trabalhadores da dignidade de uma relação empregatícia fixa e determinada, e, assim, da fundamental sensação de cada um de ser útil e contributivo, de pertencimento e de otimismo, tanto quanto ao presente que nos precariza, como ao futuro que nos espera.

Pense no engenheiro que vira motorista de táxi ou de uber; pense em qualquer técnico diplomado que se torna balconista ou atendente bancário; ou no jovem que abandonou e escola e não consegue qualquer emprego. As pessoas querem votar, sempre pensando no melhor. Mas antes precisam comer. A frustração que se generaliza constrói um ambiente social bastante semelhante ao que, há 100 anos, originou o desenvolvimento das condições objetivas que ensejaram a Revolução Comunista Russa de 1917, o fascismo italiano e o nazismo alemão nos anos 1920.

É preciso explorar, desde já, alternativas de novos modelos de sociedades pós-trabalho, e, portanto, de economias pós-emprego.

Se o trabalhador perde a sua relevância no mundo das organizações e no universo da sociedade, mais do que nunca é preciso enfrentar com determinação o desafio da sua ressignificação humana.