I – INTRODUÇÃO 
Os novos e crescentes desafios da sociedade moderna obrigam os dirigentes de organizações públicas e particulares a repartirem experiências e a aumentarem sua capacidade diagnóstica por meio da assimilação de conhecimentos oriundos dos mais diferentes campos da ação humana. 
Dentro de uma concepção mais abrangente e penetrante, treinamento significa um processo vital (permanente, portanto), que possibilite que cada indivíduo amplie sua capacidade de compreensão e de apreensão da realidade, base conceptual e perceptiva que o permita tornar-se mais objetivo e conseqüente em sua ação gerencial no trabalho e em sua vida pessoal. 
As organizações só conseguem dar direção e sentido às mudanças na busca de consecução de seus objetivos e no cumprimento de suas missões, se os quadros que as formam tiverem condições de perceber as necessidades e participar objetivamente do esforço global de transformação. 
Assim é que, ao lado da transmissão de conhecimentos e habilidades tradicionalmente entendidas como “técnicas”, é absolutamente indispensável utilizar-se de outros recursos educacionais conducentes ao posicionamento do homem como ser integral e em constante crescimento. Conseqüentemente, o mesmo ocorre também no mundo das organizações: não há organização sem pessoas se relacionando entre si para a consecução de determinados propósitos. 
Na procura de instrumentos adequados à materialização de tais objetivos educacionais, conclui-se que se deva utilizar de produtos, de conhecimentos e da criação intelectual elaborada fora do ambiente do mundo do trabalho das organizações empresariais para proporcionar a amplitude e o aprofundamento de visão e, assim, a transmissão de aprendizagens calcadas em transferência, em analogia ou em semelhança. 
Nada melhor do que analisar a vida dentro das organizações empresariais do que a partir da constatação de como é a vida fora delas. 
 O distanciamento por hipótese, por inferência e ilação, por analogia ou semelhança provoca a aproximação e a similaridade, ampliando a capacidade de compreensão e de julgamento da realidade vivenciada no cotidiano de trabalho. 
A matéria-prima natural e abundante se encontra nas obras e nos exemplos fornecidos ao longo dos tempos por meio das manifestações artístico-culturais produzidas pela própria humanidade: teatro, cinema, pintura, história, literatura, música e assim por diante. 
Existe melhor maneira de se estudar, em suas mais distintas facetas, por exemplo, a dimensão gerencial da “liderança” no mundo das organizações e na sociedade em geral do que explorar as características de figuras históricas ou ficcionais? 
Retomando a realização dos Debates Culturais em Administração, pioneiramente realizados pelo CRA/RJ nos primeiros anos da década de 80, temos a mais absoluta convicção de estarmos utilizando, inovadoramente, casos, episódios e manifestações culturais distintas, que extrapolam em muito a simples e limitada literatura técnica produzida dentro das organizações empresarias e as acadêmicas, transportando, entretanto, seus ensinamentos para o interior delas. 
Através da realização dos Debates Culturais em Administração, o Conselho Regional de Administração RJ pretende contribuir de maneira singular e direta para a discussão e o exame da dinâmica do comportamento humano nas organizações, tema nunca suficientemente explorado e, no entanto, tão íntimo de tantos quantos exercem atividades de direção, de gerência, de supervisão ou de assessoramento e de consultoria, ou mesmo como operadores técnicos ou simples colaboradores engajados em atividades organizacionais. 
Os Debates Culturais em administração parte da premissa ou do pressuposto de que as ações 
 humanas transcendem as limitações temporais ou espaciais, havendo um paralelismo dinâmico e intrínseco entre a vida dentro e fora das organizações. 
Muito mais do que um mero exercício acadêmico ou de indagação intelectual, os Debates Culturais em Administração se propõem a explorar, em extensão e em profundidade, a universalidade e a perenidade de determinadas dimensões e facetas do comportamento humano, especialmente quando somos levados a nos associar produtivamente dentro do que se convencionou chamar de empresas. 
Esperamos reunir sinérgica e colaborativamente perspectivas, contribuições, diagnósticos e propostas de executivos, de profissionais de organizações, de estudiosos e estudantes de administração, de professores e de alunos às de especialistas e de intelectuais, de artistas, de produtores e de operadores em atividades culturais para debaterem os diferentes temas em análise, compatibilizando e fecundando simultaneamente as dimensões da gestão organizacional e da produção cultural. 

São partes desses Debates Culturais, por exemplo, as seguintes dimensões organizacionais: 

Inovação e Criatividade
Liderança
A dinâmica do poder nas relações de trabalho
A motivação humana
Processo Decisório
Administração do tempo
As relações na família, na organização e na comunidade em geral
Burocracia
O conflito individual, grupal e intergrupal
Concepções sobre o comportamento humano
Autoridade e responsabilidade
Usos da hierarquia
Trabalho em equipe
Assédio no trabalho 
   
A discriminação e a ditas minorias sociais
Competição e colaboração
A sociedade de mercado
As teorias de organização
A moral e a ética no trabalho
A responsabilidade social das organizações
A ordem econômica mundial
Os movimentos sociais e a cidadania
A felicidade no trabalho
O suicídio no trabalho
A psicologia social das organizações
A cultura organizacional
A influencia da filosofia e do pensamento econômico
As ordens técnico-cientificas, institucionais-legais, ético-morias, e espirituais na construção das relações sociais … 

II- Programação dos Debates 
As atividades educacionais dos Debates Culturais em Administração se iniciarão com a realização de 12 eventos, a serem cronogramados com intervalo de cerca de 30 dias entre um e outro, abarcando todo o Estado do Rio de Janeiro, na sede e nas delegacias do interior do CRA/RJ, ou em municípios-pólos. 
Farão parte integrante de eventos tradicionais já programados pelo CRA/RJ, como os ENCADs – Encontros de Administração – ou de programações educacionais especiais a serem realizadas localmente nas distintas regiões do Estado ou em entidades universitárias. 
A realização de um Debate deverá ser antecedida de cuidadosa definição conceptual do tema e dos recursos artístico-culturais a serem utilizados. Ao contrário, corre-se o risco de reeditar, inadvertidamente, mais um cine-clube, o que não é o caso, pois este tem objetivos inteiramente diversos. Ademais, não pode repetir o equívoco usual praticado amiúde na realização de atividades de treinamento em que a projeção de filmes se esgota na simples e livre discussão e debate da obra pelos treinandos, sem as devidas amarras, conexões e interrelações produzidas por especialistas de alto nível tanto dos conceitos de administração inerentes à obra cultural quanto pela contextualização, circunstâncias e características históricas, políticas e sociais, técnicas e intelectuais da produção artística em tela. 
Que aprendizagens podem ser auferidas pelos participantes a partir da dramatização da obra de arte à luz das contribuições das teorias das organizações na categoria objeto de análise? Que implicações têm a produção cultural para a generalização e a especificidade do mundo das relações de trabalho no ambiente organizacional? 
Não basta extrair dos participantes as suas contribuições, certamente essenciais, mas lhes propiciar inputs teóricos e práticos de gestão das organizações e do universo do conhecimento, fazer as devidas imbricações entre uma coisa e outra, destacar perspectivas e atipicidades, conectar pontos de vista, buscar convergências, excluir juízos equivocados, preconceitos ou achismos, enfim, dotar o participante de uma visão universalista de sua realidade de trabalho a fim de que possa se tornar mais conseqüente e objetivo na sua ação individual e gerencial quer na vida pessoal e quer na profissional. 
III- SISTEMÁTICA DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM 
1 – Primeiro Debate : “A Liderança e a Crise de Sucessão nas Organizações”. 
Justificativa do tema : Este Debate procurará veicular idéias que melhor possam instrumentar os participantes no desenvolvimento de sua capacidade diagnóstica e, conseqüentemente, tornarem-se mais conscientes dos pressupostos que embasam os seus comportamentos e atitudes como líderes de pessoas e de programas, e tomadores de decisões individuais e em equipe. 
Administrar é obter resultados através de pessoas, o que induz à noção de que os padrões de liderança adotados exercem profunda influência na qualidade do desempenho organizacional, no moral do grupo, no clima psicossociológico, na ambiência de trabalho, na formação da cultura dominante, na trajetória existencial da organização, na sua continuidade e sucessão geracional. 
Estrutura do Debate : A duração do Debate será de duas horas a duas horas e trinta, normalmente apresentado em apenas um dia, em horário e local a serem previamente combinados. 
Em casos especiais, o Debate poderá ser estendido por mais um ou dois dias, quando então programações específicas propiciarão o aprofundamento do tema em dias subseqüentes, com a apresentação de distintas obras culturais. 
1. Introdução ao Tema : O presidente da mesa ou o moderador dos debates abrirá os trabalhos e apresentará o tema “liderança e a crise de sucessão nas organizações”. 
Tempo: 5 minutos 
2. Leitura Dramatizada da peça  “O Rei Lear”, obra imortal de Wiliam Shakespeare. No argumento da obra teatral, inspirado por antigas lendas britânicas, o rei enlouquece após ser traído por duas de suas três filhas, às quais havia legado seu reino de maneira inadequada. 
O “Rei Lear” será utilizado para compor um quadro de referências e de reflexões sobre as circunstâncias e as conseqüências dos descaminhos produzidos pelos erros da liderança e, assim, fazer as devidas conexões e beneficiar-se dos efeitos didáticos da tragédia shakespereana para a realidade do cotidiano das organizações contemporâneas no que se relaciona à fragilidade humana, à aprendizagem a partir da experiência, aos equívocos de avaliação de cenários e de pessoas, aos sentimentos humanos contaminados por baixa racionalidade, vaidade, soberba e intempestividade. 
Tempo: 50 a 60 minutos 
3. Após a apresentação da peça, o expositor especialista em teatro abordará a contribuição de William Shakespeare na literatura mundial e fará especificamente a contextualização da peça em suas mais distintas dimensões culturais e históricas em busca da dissecação dos valores e dos estilos de liderança de um executivo moderno e das crises de geração das sucessões organizacionais. 
Tempo: 20 a 25 minutos 
4. A seguir, o expositor especialista em organização analisará o processo de influenciação na vida das organizações e as características universais da liderança e das crises organizacionais, procurando extrair pontualmente reflexões sobre as contribuições dos estudos do mundo do trabalho a partir da constatação dos diálogos da peça apresentada. 
Tempo: 20 a 25 minutos 
5. Debates : Perguntas do auditório aos expositores 
6. Encerramento : À guisa de encerramento, o presidente da mesa ou moderador fará uma rápida exposição dos pontos de destaque e de interconexão entre as duas abordagens expostos e a participação do público. 
Extensão e Aprofundamento do Tema 
Excepcionalmente, quando este tema for debatido em mais de um dia, ele poderá, em função de características próprias do evento, ser realizado por: 
a) Apresentação de uma palestra ou a realização de um workshop sobre liderança e crise de sucessão nas organizações. 
b) Projeção do filme “Cidadão Kane”, de Orson Welles, realizado em 1940, e que se tornou um clássico do cinema mundial, de grande impacto à época de seu lançamento. 
c) Apresentação de palestra sobre o pensamento de Maquiavel para a dinâmica das organizações e a importância histórica de sua obra 
d) Leitura dramatizada da peça “Calígula”, de Albert Camus, Prêmio Nobel de Literatura em 1975. 

e) Projeção dos filmes “Delmiro Gouveia”, de Geraldo Sarno, ou “Barão de Mauá”, protagonizado pelo ator Paulo Betti. 

f) Projeção do filme “Doze Homens e Uma Sentença”, de Sidney Lumet. 
IV- ARTICULAÇÕES INSTITUCIONAIS 
1. Face à sua natureza educacional, cultural, técnica e recreativa, os Debates Culturais em Administração possibilitam a realização sinérgica de parcerias e de interrelações institucionais com entidades públicas e empresas particulares, organizações não-governamentais e os movimentos sociais institucionalizados. 
2. A realização dos debates se fará com a transmissão da WebRadio e da TVWeb do CRA/RJ, sempre que possível ao vivo, diretamente dos locais em que se realizarem os eventos. 
Tal prática garantirá uma audiência incomensuravelmente maior, pois não se limitará aos espaços naturalmente restritos em que os eventos se realizarão na modalidade presencial dos auditórios, centros de convenções e das salas de teatro. 
2.1. A realização dos eventos será procedida de ampla divulgação nas distintas mídias próprias do CRA/RJ (revistas bimestral, newsletters semanal “Atualidades”, mensagens no site e MSN, veiculações na webradio e na webtv), além de eventual divulgação externa em outdoors e nas imprensas locais e regionais, ou disponibilizadas pelos parceiros.