Não é segredo para ninguém que a Cidade do Rio de Janeiro vive o pior momento de sua história, desde capital no Brasil Império e na República, como Distrito federal; como Estado da Guanabara e depois da fusão, em 1975, como Município e capital do novo Estado do Rio de Janeiro.
A Cidade está destroçada, num “incontrolável descontrole urbano”, em que “a ordem é a desordem” como prática populista de implementação das políticas públicas municipais.
As políticas sociais de proteção das populações vulneráveis foram para a cucuia. Os abrigos municipais praticamente estão esvaziados e politizados em sua pior expressão. Os puxadinhos e a irresponsabilidade urbana campeiam por todos os bairros. A destruição de nosso patrimônio ambiental se faz com a maior desfaçatez. A violência se reverbera em todos os cantos, comandada pelo tráfico e por criminosos milicianos travestidos de polícia.
Não é mistério para ninguém que o mais grave mal, a doença mais infecciosa desta Cidade não é tudo isso, nem o Covid19, nem a falta de saneamento – água e esgoto – que só atende às regiões habitadas pelos brancos de classes médias e ricas , deixando as comunidades populares das ditas populações negras e nordestinas das favelas e das periferias da Cidade “a Deus Dará “com a reiterada prática da politicagem da bica d’água e dos caminhões pipas a serviço dos “mandantes das áreas”. A remoção do lixo e a limpeza e conservação urbana ficam para a “providência divina” representada pelo “Chama a Marcia” como a expressão mais cafajeste do fisiologismo politiqueiro e do uso do poder público no interesse de ações não-republicanas.
A doença mais infecciosa do Rio é a falta de confiança do povo em si mesmo; é a falta de confiança do povo em seus representantes; é o desprezo do prefeito e dos vereadores pelas necessidades e anseios do povo; é o desprezo da população por aqueles que deveriam estar a seu serviço e não a serviço de seus próprios interesses pessoais subalternos.
Não há nada que mate mais a Cidade, não há nada que degrade mais o povo do que não poder ter confiança naqueles que ele escolhe, que vão governar – uma vez eleitos – apenas para seus apaniguados e cabos eleitorais, pela exploração das necessidades do toma lá dá cá como moeda de troca somente para os que votaram neles.
Prefeito e vereadores têm de governar para o conjunto da Cidade, no interesse do bem comum, para todos aqueles, indistintamente, que pagam impostos e trabalham; e para os que precisam de renda e de emprego; e para todos que precisam de escolas e de saúde, de abrigos sociais; e de viver em harmonia, em paz e em realização nesse imenso e generoso espaço urbano bonito por sua própria natureza.
A desconfiança que hoje encontramos no povo do Rio, essa falta de fé e de convicção em si mesmo, a impressão generalizada na população de que isso não tem jeito, não tem mais condições de conserto, é, em grande parte, a maior dificuldade que a Cidade tem para reverter o quadro de desesperanças que a todos infelicita.
Não se resolvem as questões básicas de desigualdades sociais, de saúde pública precária, de universalização de água e esgoto, de proteção do patrimônio cultural, urbanístico e ambiental, de exploração econômica de suas belezas geradoras evidentes de renda e de emprego, de matrícula e a qualidade de educação para os nossos meninos e meninas, onde o povo não tem mais confiança em si mesmo e, muito menos, em seu prefeito e vereadores.
Não adianta ter liberdade de votar se não soubermos o que fazer com o voto que praticamos. Se não soubermos usufruir desse direito com consciência e responsabilidade. Ter liberdade é ter responsabilidade no exercício do voto como cidadão eleitor, cidadão contribuinte e cidadão consumidor. Numa democracia o povo é soberano. É preciso então educar o soberano. Para escolher quem vai governar bem é preciso que o povo esteja comprometido e preparado em escolher quem vai governar bem. E isso se aprende com a participação nas escolas e nas instituições da sociedade em busca do bem comum.
E quando se aprende isso, aprende-se a escolher quem seja capaz de dar eficiência à gestão pública no interesse do cidadão e do bem comum. Daí a importância que tem não só para o trabalhador, mas para o empresário, não só para os pobres, mas para os ricos e os da classe média, a educação cidadã e uma boa escola para todos, para seus filhos e os filhos daqueles que moram na Cidade. Não adianta montar estruturas e instalações públicas de primeiro mundo se os representantes que as vão gerenciar continuam com as velhas práticas do mandonismo e da política de compadrio e de patronagem, na reedição urbana a que nos descreve Gilberto Freyre em “Casa Grande e Senzala” ou Raimundo Faoro em “Os Donos do Poder”.
Hoje o rei é o povo, o príncipe é o povo, e, assim, é ele quem no próximo dia 15 de novembro vai escolher o prefeito e os vereadores que vão governar esta Cidade, esbagaçada por tantos desacertos praticados por aqueles que hoje ainda nos governam.
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