As teorias das organizações se forjam nas possibilidades e nas realidades objetivas da Ordem Tecnocientifica ou Econômica. Legitimá-las ou rejeitá-las são circunstâncias que podem conduzir ao sucesso corporativo no universo da sociedade.
Que limites devem ser interpostos aos avanços da ciência? E quais os limites para a manipulação genética, o uso de células-tronco, a clonagem reprodutiva, a interferência na constituição dos fetos e de suas características, as escolhas de sexo, dos níveis de inteligência, da eliminação das propensões a determinadas doenças etc.?
Essas questões as ciências, e a ciência médica em particular, não respondem nem jamais as responderão por não serem de sua competência.
Tudo o que as ciências podem fazer é nos dizer o que é possível ou tecnicamente impossível, pelo menos no estágio de desenvolvimento científico em que nos encontramos. Ou pode até prospectar sobre o cientificamente cogitável no futuro.
Mas fixar, no campo do possível, limites a que as ciências deveriam se auto-impor, ou que não deveriam transpor em nenhum caso, é questão que as ciências, em quaisquer de suas distintas ramificações, são definitivamente incapazes de fazer.
Que limites para a biologia? A biologia não é capaz de responder e muito menos de se auto-impor. E assim em quaisquer ciências.
A ciência como ciência jamais se limitará a si própria no seu processo de desenvolvimento. Fazê-lo seria contrariar a sua própria natureza. A ciência não conhece nem valores nem deveres. Ela conhece unicamente fatos: ela sempre fala no indicativo, nunca no imperativo, e é o que a impede de fazer as vezes da moral e da ética.
Assim também se colocam as questões: que limites para a economia? Que limites para o capitalismo? Que limites para o mercado?
Nem a economia, nem o capitalismo ou o mercado serão capazes de responder. Jamais vão se autolimitar ou vão deixar de querer se expandir.
Por exemplo, que limites a economia deve fixar para a expansão do preço do barril de petróleo?
A economia não responde. Vai querer sempre aumentar, se lhe for permitido.
O máximo que poderá fazer é nos dizer o preço previsível para amanhã, daqui a seis meses ou dez anos. Mas estabelecer previamente uma espécie de cotação-teto acima do qual o barril de petróleo não deveria ultrapassar em caso algum é questão que a economia, como tal, definitivamente se apresenta incapaz de fazê-lo, pois contrária à sua própria lógica.
Que limites para a economia? A economia não responde, porque não é a economia que se auto-controla, mas sim outras ordens externas que não lhe pertencem, e que lhe interpõem limites. No caso, a ordem institucional-legal ou jurídico-política, e as ordens moral, ética e espiritual, cada uma delas dentro de suas esferas de influência.
A Ordem Econômica ou Tecnocientífica é estruturada pela oposição entre o possível e o impossível. O que ontem era impossível, hoje pode não mais o ser. O que hoje é impossível talvez possa ser possível amanhã com as descobertas e o desenvolvimento contínuo das ciências e das tecnologias da sociedade do conhecimento.
A Ordem Econômica ou Tecnocientífica não pára historicamente de se deslocar. É o que chamamos de progresso científico e tecnológico, e nem sempre isso se faz para a construção do bem. Lembremo-nos da bomba atômica, do antrax e de outras formas insidiosas de assassínio em massa desenvolvidas pelo homem ao longo de sua trajetória.
Cada vez que a cotação do café, por exemplo, perde alguns centavos nas bolsas de commodities, milhares de pessoas perdem os seus empregos, mergulham em níveis abaixo da pobreza nos países produtores.
Isto não basta para fazer a cotação do café subir, mas certamente nos proíbe de nos entregarmos passivamente às leis do mercado e às possibilidades tecnocientíficas.
De sorte que somos obrigados a limitar essa Ordem Econômica ou Tecnocientífica a fim de que tudo o que seja cientificamente pensável e tecnicamente possível, que seja economicamente viável, nem por isso seja feito. A ciência sem consciência não é mais do que a ruína da alma, como bem diz Rabelais.
E como a biologia, a economia e todas as demais ciências e técnicas são incapazes de se limitarem a si mesmas, elas devem ser necessariamente limitadas e contidas do exterior a elas, isto é, pelas demais ordens: a ordem jurídico-política ou institucional-legal, a ordem moral, a ordem ética e a ordem espiritual.
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