De Wagner Siqueira*
Há um século a Conferência Internacional das Mulheres, reunida em Copenhague, proclamou o Dia da Mulher, num evento eminentemente reivindicativo, comprometido à época com a luta dos trabalhadores em todo o mundo, na busca por melhores condições de trabalho e de remuneração.
Hoje, um sem-número de eventos todos os dias, agora realizados num mundo globalizado, apontam que metade da população mundial, as mulheres, está ainda longe de participar em igualdade de direitos, das liberdades e das prerrogativas, de tudo o que conquistamos ao longo do Século XX.
E, no entanto, foi muito que avançamos desde então. Tanto que hoje, no Brasil, por exemplo, é difícil fazer crer aos jovens que suas avós, e muito menos suas bisavós, não podiam abrir conta corrente nos bancos, ou conseguir um passaporte, sem permissão do pai ou do marido. Foi grande a evolução: quase já não há mais resquício de discriminação contra a mulher por razão de gênero nas leis que regem a nossa convivência em sociedade.
Mas o Brasil é pródigo em dissociar o dizer e o fazer, a palavra e o gesto, a intenção e a ação. Assim, enquanto a lei afirma a equidade de gêneros, o cotidiano da vida a desmente.
Essa defasagem entre a legislação e a realidade concreta reafirma ainda muito do que imperou em nossa sociedade, mesmo que legalmente erradicado. Está presente nas relações de trabalho e na vida em geral. Dissimula-se nos aspectos mais primários de uma relação equitativa. Menos salário para um mesmo trabalho; mais horas dedicadas às tarefas domésticas, sempre em dupla jornada; atenção quase solitária às crianças e aos idosos; presença bem menor nos postos de supervisão e de gerências nas organizações; participação secundária na política e no mundo acadêmico; e, sobretudo, vítimas sistemáticas da violência doméstica. Esses são apenas alguns dos principais exemplos de um desequilíbrio que é fonte permanente de injustiças, e, que por si sós, constituem-se em razões imperiosas para seguir lutando no sentido de transformar esse quadro de circunstâncias tão dramático. É disto que se trata quando se fala da imperiosa missão e da tarefa de nosso tempo em busca da conquista de uma verdadeira equidade de gêneros.
Mas qual é a agenda? Qual é o objetivo que, diante deste quadro de desigualdades, é preciso converter no principal horizonte a ser efetivamente conquistado?
Ortega Y Gassett gostava de dizer que cada época tem a sua missão e a sua tarefa na construção de um mundo melhor. E a nossa é essencialmente marcada por transformações e mudanças em que os avanços tecnológicos converteram o mundo na verdadeira aldeia global, a que se referia McLuhan; agressões ao meio ambiente que nos colocam frente ao desafio da mudança climática; transformações econômicas e políticas que nos levam à predominância de um modelo que está a ponto de conduzir o mundo, num dia próximo, ao colapso.
A missão e a tarefa de todos os que lutam por equidade de gêneros nos tempos presentes é conseguir que as mulheres participem de igual a igual dos desafios que essas transformações nos projetam. Acabar com a desigualdade entre sexos não é resolver simplesmente um problema exclusivo das mulheres, por si só muito relevante, mas equacionar e resolver um problema de todos no universo da sociedade. É isso que as mulheres representam hoje em todo o mundo nesta etapa tão marcante da trajetória humana: a solução dos problemas de nosso tempo.
As mulheres já são a metade do conhecimento, do trabalho, do talento dos países desenvolvidos. E muito mais do que a metade da coesão social e do esforço em favor da paz nos países emergentes como o Brasil.
Mas também nos países mais avançados ainda há muito a construir. Não há numa só comunidade em que as mulheres não encontrem ainda muitas resistências à ocupação de postos de responsabilidade e de decisão no seio das organizações e no universo da sociedade. Não há nem uma só exceção em que as mulheres não tenham que se exceder em esforços suplementares para alcançar as metas a que se propõem e ter o nível de participação compatível com a sua contribuição.
Os tempos em que vivemos impõem mudanças imediatas. Tempos em que não mais se pode ceder espaço aos avanços já conquistados. A igualdade de sexos e a igualdade de direitos e de oportunidades entre todos têm que ser os valores centrais de um novo mundo a construir.
Posicionar as mulheres ombro a ombro, na primeira linha do campo de batalhas na luta de construção de um mundo mais justo e mais fraterno, equitativo e equilibrado, generoso e cidadão, na luta por um mundo melhor, é hoje a missão e a tarefa de todos nós.
(*) Wagner Siqueira é consultor de organização, autor dos livros “As Organizações são Morais?”, “Seitas organizacionais” e “Estratégias de Intervenção em Consultoria de Organização”, entre outros.
Wagnersiqueira.adm.br
Texto de uma clareza e importância,principalmente no que se refere a mulher ,é a pura realidade
Dr. Wagner Siqueira,
Bom-dia!
Congratulações, por esse seu “voo de águia”, descrevendo, de maneira magistral, o passado, o presente e o futuro da situação social do elemento feminino, no Brasil, e no mundo.
Empolgado, estou me impondo, a tarefa, de espalhar essa sua produção literária.
Abraços!
Pr. Joaquim de Paula Rosa
01/09/2023
Parabéns pelo seu Cabedal de conhecimento. Meu Presidente Wagner Ciqueira. Presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro. Que Deus te abençoem nessa grande caminhada. Tmj.