A FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR E O SISTEMA CFA/CRAs



a) Os cursos de graduação em Administração, na sua maioria, não estão contextualizados ao processo de globalização econômica. Há necessidade de redefinição de sua função social e científica, mediante um novo projeto institucional de formação acadêmica.


Para poder cumprir este papel, os dirigentes do Sistema CFA/CRAs terão que se defrontar com a academia, para retirar-lhe da senda da omissão e da letargia em que o ensino da Administração se encontra em nosso País, em que pese o esforço de resistência de muitos colegas administradores no exercício do magistério.


b) Há crescente área cinzenta entre as profissões, decorrente do desaparecimento das fronteiras tradicionais entre os empregos e conteúdos ocupacionais da administração e os demais setores do processo produtivo (produção, armazenagem, distribuição), o que favorece a mobilidade entre empregos e funções.


c) O modelo de especialização flexível e os novos conceitos de produção, o desenvolvimento do conteúdo informativo das atividades profissionais, a difusão das ferramentas de tratamento das informações e sua inserção em redes de informações e comunicação estão certamente entre as causas do desaparecimento das fronteiras tradicionais entre os empregos e funções administrativas e as de outros ramos de formação profissional.

d) Ausência de desenvolvimento de competências de longo prazo requeridas pelo mercado, que somente podem ser concebidas sobre uma ampla base de educação geral para preparar o profissional competente, o cidadão socialmente responsável e o Administrador qualificado, polivalente, generalista, comprometido com o bem estar coletivo.


e) É necessário reverter a tendência à avaliação de cursos fundados em modelos centrados no passado e não no futuro. A avaliação deve questionar que conhecimentos adquirir para se tornarem profissionais aptos a atender às necessidades futuras dos seus clientes/usuários.


CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL


Para isso o Sistema CFA/CRA-RJ precisa ingressar no mundo da Certificação Profissional, não obrigatória, por áreas de especialização, abandonando de vez as tentativas antigas e superadas, anacrônicas, das provas de suficiência, absolutamente defasadas da nossa realidade profissional.


Esses exames de ordem em provas de suficiência, como defendem os atuais dirigentes do Sistema CFA/CRAs desconhecem as realidades do século da volta à escola, a obsolescência do conhecimento e a imposição permanente da reciclagem profissional. Aferram-se ao anacronismo como verdadeiros adoradores da inércia.


f) É significativo o esforço do MEC no sentido de recuperar a credibilidade dos cursos de graduação em Administração. Este é um referencial importante a ser perseguido no sentido de influir e aperfeiçoar o processo de adequação dos cursos de graduação.Muitos colegas professores de administração também se dedicam,com empenho e legitimidade, a esta tarefa.


No entanto, o Sistema CFA/CRA-RJ, lado a lado com o MEC, tem que lutar pela denúncia e pelo fechamento das entidades educacionais deficientes no ensino de Administração. Não pode continuar a vê-las como nacos generosos de consultoria acadêmica a serem compartilhados entre os dirigentes do Sistema CFA-CRAs “enturmados” naquele Ministério e com os donos dessas faculdades deficientes, máquinas caríssimas de má formação profissional.


Afinal, esses projetos de consultoria, o mais das vezes, acabam apenas por dar uma sobrevida ao que já não mais podia existir, sem promover qualquer melhoria efetiva do desempenho acadêmico, mas tão-somente, e nem sempre, apenas dando-lhes cumprimento dos ritos e dos formalismos academicistas tão em voga na pesada, empolada e lerda burocracia do MEC.


Essa forma desviada de participação dominante dos representantes do Sistema CFA/CRAs no mundo da consultoria e da gestão acadêmica, tanto no MEC quanto nas faculdades de Administração, não tem redundado em qualquer benefício à profissão, ao profissional ou à sociedade. Tem apenas subordinado, cada vez mais, o Sistema de representação profissional dos Administradores aos interesses financistas dos tubarões do ensino e dos supermercadistas universitários.


O Sistema CFA/CRAs não pode continuar a ser usado como trilha privilegiada de ascensão social de muitos conselheiros vocacionados para o alpinismo acadêmico no universo de tantas faculdades de administração deficientes e na burocracia do MEC.


g) É preciso que a formação acadêmica do administrador conceptualize a Administração como ciência social aplicada, relegando à posição secundária a excessiva tecnificação rapidamente superável no uso de ferramentas administrativas destituídas de qualquer base doutrinária mais sólida. O Administrador precisa aprender a pensar a sua realidade no sentido de a transformar, subordinando o uso da técnica ao diagnóstico da situação.


h) Por outro lado, as ditas disciplinas aplicadas precisam ser de fato aplicadas, isto é, contextualizadas à administração e ao administrador.
Por exemplo: ensinar ao administrador a fazer balanços e só cobrar dele esse conhecimento é um desvio equivocado da formação profissional.


O Administrador jamais fará um balanço e, se o fizer, estará no exercício ilegal da profissão de contador.

Ele precisa, isto sim, é pensar a organização em função da realidade contábil. No mesmo sentido, o ensino de psicologia na Administração precisa oferecer as enormes contribuições da Psicologia Social ao desenvolvimento das organizações, reduzindo a ênfase desnecessariamente exagerada nos Id/Ego/Superego, tão próprios aos que se destinam à formação de psicólogos, mas desfocados das necessidades gerenciais do administrador.


Como disse Berthold Brecht em Galileu Galilei – “ Viu-se o que é raro de se ver: um professor querer aprender”.


i) Muito mais ainda é preciso se alterar a realidade de nossos cursos de mestrado e de doutorado, verdadeiras panelinhas e cliques de profissionais e de estudantes com formação de graduação em ciências exatas, para os quais, em geral, se destinam formas desvirtuadas de seleção em programas que nada têm a ver com a Administração como um ramo aplicado das Ciências Sociais.


É preciso se avaliar, em profundidade e extensão, a real contribuição desses cursos de mestres e doutores em Administração no Brasil, para o desenvolvimento das nossas organizações e a transformação da sociedade. Ou seja: qual q efetiva contribuição que organismos como a ANGRAD e a ANPAD têm oferecido ao desenvolvimento da profissão e do Administrador?


O papel do Sistema CFA/CRA-RJ é acicatar-lhes, fazer-lhes sair da inércia, deixar de representar, o mais das vezes, os interesses dos donos das faculdades para se focarem nas questões do profissional, na realização do seu mister no mundo das organizações.


São o Administrador e a Administração que devem ser o foco de estudo e de contribuição dos cursos de mestrado e de doutorado, não as faculdades de administração e os interesses de seus donos tout court.


O SISTEMA CFA/CRAs, A ACADEMIA E A BUROCRACIA PÚBLICA


Na maioria das vezes os conselheiros se valem do Sistema CFA/CRAs apenas para a viabilização de seus projetos pessoais na academia e na burocracia pública.


Não há qualquer esforço deliberado, intencional e conseqüente para intervir técnica, institucional e politicamente em ambas no sentido de integrá-las, gerar consensos e sinergias, promover mudanças e transformações, estabelecer o novo, criar e desenvolver uma cultura de gestão pública fundada na pesquisa e nos avanços do conhecimento aplicado oriundos da academia.


O Sistema CFA/CRAs não percebe o absoluto divórcio existente entre a burocracia pública e a academia. Como não consegue sequer enxergar o problema, o Sistema CFA/CRAs não se coloca como parte da solução.


E assim, por omissão, deixa de abrir generosos espaços de contribuição do Administrador ao desenvolvimento do Brasil.


A produção acadêmica no campo da administração em nosso País beneficia somente aos que a buscam. Mas o faz, quando muito, apenas de forma isolada, circunstancial ou atípica, porque individualista ou pessoal.


É preciso que o Sistema CFA/CRAs estimule a formulação de uma estratégia que busque a interação profícua entre a máquina pública, com suas agruras e necessidades, e as possibilidades de respostas produzidas pela academia, que tenham no Administrador o operador dessa nova realidade.


Mas essa estratégia que não só foque as demandas sentidas atuais, como também se antecipe às vindouras, de curto, médio e longo prazos de construção de uma burocracia efetivamente comprometida com o bem comum e com a causa cidadã.
Eis aí um papel de agente de mudanças absolutamente ignorados pelos dirigentes do Sistema CFA/CRAs


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