A recente turbulência no sistema aeroportuário do Rio de Janeiro, evidenciada pelas discussões sobre a flexibilização do teto de passageiros no Aeroporto Santos Dumont (SDU) e os impactos no Aeroporto Internacional Galeão-Tom Jobim (GIG), não é apenas uma questão de infraestrutura ou logística: é,
fundamentalmente, um desafio de Gestão Estratégica.
As notícias de hoje revelam um impasse entre a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Prefeitura do Rio. Enquanto o governo federal confirma a ampliação do limite anual de passageiros do SDU para 8 milhões em 2026 (um aumento significativo frente ao teto atual de 6,5 milhões), autoridades locais alertam para o risco de um novo esvaziamento do Galeão, que havia começado a se recuperar.
Sob a ótica da Ciência da Administração, o que vemos é o risco de uma gestão reativa, pautada por ajustes pontuais em vez de um planejamento de longo prazo integrado. O sucesso de um sistema complexo como o aeroportuário depende da Ambidestria Organizacional: a capacidade de manter a eficiência operacional no Santos Dumont sem canibalizar o papel estratégico do Galeão como hub internacional.
A gestão moderna exige que olhemos para os dois terminais como um ecossistema único. Quando o Galeão cresce — atingindo 17 milhões de passageiros em 2025 graças às restrições no SDU — ele fortalece toda a cadeia econômica do Rio, atraindo dólares, cargas e novas rotas internacionais. Qualquer alteração brusca nesse equilíbrio, sem um estudo técnico de impacto sistêmico, compromete a segurança jurídica e afasta investimentos.
Como Administradores, defendemos que as decisões de agências reguladoras e ministérios sejam baseadas em indicadores de desempenho claros e transparentes. A “mentalidade do carro de boi”, que mencionei em outras ocasiões, não pode prevalecer em setores que operam na “velocidade da luz”, como a aviação. É imperativo que a gestão compartilhada, proposta por diversas esferas públicas, saia do papel para garantir que o Rio de Janeiro não perca sua competitividade global.
Por isso tudo, reafirmo: não haverá solução sustentável para os aeroportos do Rio sem uma governança técnica, ética e, acima de tudo, profissional. O Rio de Janeiro merece uma gestão de altura, que honre sua história e garanta sua decolagem definitiva para o futuro.
Adm. Wagner Siqueira
Presidente do CRA-RJ e do Fórum Est. dos Conselhos Profissionais do RJ