É injusto culpar apenas os gestores públicos pelos casos de corrupção registrados no Brasil, sem o registro de que para cada gestor desonesto há sempre um corruptor, quase sempre oriundo do setor privado, afirma em entrevista o Adm. Wagner Siqueira, presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ).
Para o gestor, a corrupção também prolifera na relação entre empresas, por meio de fraudes, subornos, sonegações a acordos que distorcem as concorrências e comprometem o ambiente de negócios. “No entanto, o que mais aparece injustamente para a sociedade é a figura do gestor público desonesto”, ressalta Siqueira.
Veja mais detalhes na entrevista realizada com o presidente do Conselho de Administração do Rio de Janeiro, que também é presidente do Fórum de Conselhos e Ordens Profissionais do RJ, ex-secretário de Administração da Cidade do Rio de Janeiro, membro acadêmico da Academia Brasileira de Ciência da Administração (ABCA) e da Academia Nacional de Economia (ANE).
– Quais os maiores prejuízos causados pela corrupção?
Wagner Siqueira: A corrupção penaliza toda a sociedade, encarece produtos e serviços e mina a confiança nas instituições. Com isso, afeta a competitividade e a sustentabilidade econômica.
– Como combater com eficiência a corrupção?
WS – Não temos no Brasil uma legislação eficaz para isso. Um projeto de lei que estabelece penas duras para atos de corrupção dorme há anos nas gavetas do senado. Essa demora, esse desinteresse dos parlamentares em encontrar solução para um problema tão grave, impede o avanço em nosso país de um ambiente de negócios íntegro, ético e competitivo.
– E ninguém faz nada para combater a corrupção?
WS – São poucas as iniciativas institucionais nesse sentido. Uma delas é o Pacto Brasil pela Integridade Empresarial, da CGU, que tenta orientar o empresariado, oferecendo um roteiro para que as empresas adotem boas práticas de governança, pautadas pela ética.
– O que prega, na prática, esse pacto?
WS – Mostra que códigos de conduta éticos, critérios rigorosos na escolha de líderes, transparência contábil e proteção a denunciantes são indispensáveis para a construção de um ambiente empresarial íntegro.
– Qual a importância da participação da sociedade nesse processo?
WS – É imprescindível a participação da sociedade organizada para que essas ações sejam implementadas na prática, não fiquem restritas a discursos e documentos.
– A corrupção também afeta a saúde das organizações?
WS – Com certeza. Muitas empresas entraram em colapso devido a escândalos internos, poderiam preservado seus patrimônios e tivessem agido com transparência. Atuar preventivamente e corrigir desvios, além de fortalecer a reputação, aumenta a confiança de consumidores, investidores e parceiros.
– O avanço tecnológico pode contribuir nesse processo?
WS – E muito. Ferramentas como, por exemplo, o Big Data e a Inteligência Artificial permitem hoje em dia mapear condutas suspeitas, rastrear recursos e identificar irregularidades em tempo real, ampliando significativamente a efetividade de ações preventivas.
– É possível separar as responsabilidades da empresa e do gestor em casos de corrupção?
WS – Não só é possível, como também indispensável. A punição exemplar dos responsáveis diretos e a manutenção do capital produtivo é fundamental para garantir justiça sem comprometer o interesse público, protegendo empregos e riqueza gerada para a sociedade.
– O Brasil é mesmo o país da corrupção?
WS – A corrupção não é regra entre nós. A grande maioria dos empresários e gestores brasileiros atua com ética e responsabilidade. É uma pequena parcela que prejudica muito o ambiente de negócios e abala a confiança na economia.
Adm. Wagner Siqueira
Presidente do CRA-RJ e do Fórum Est. dos Conselhos Profissionais do RJ