Prisioneiros das Individualidades

De Wagner Siqueira*

 

Viver em redes digitais tem significado viver com mais dispersão e menos diálogo em busca de convergências e de pontos de encontro. A sociabilidade digital não consegue expandir as interações democráticas entre pontos de vista divergentes.

Desloca as pessoas para guetos autossuficientes, em que se sobrepõem às superficialidades, simplismos, boatos, fake-news e mistificações. Cada um fixa a sua posição à espera de aplausos, de mais curtidas e de seguidores.

Perde-se a motivação e se estabelece a indisposição para interagir com os diferentes. A política sangra e se esvai. As relações humanas entre amigos e familiares também. Viramos prisioneiros de nossas próprias individualidades.

Nunca teve tanta razão Nelson Rodrigues: “as pessoas podem viver sem amor, mas jamais conseguem viver sem ódios. O ser humano é mais fiel ao ódio do que ao amor”.

Este é o espírito de nossa época: prisioneiros das individualidades, quase não damos atenção ao próximo. Nas empresas, nunca se falou tanto em trabalho em equipe, mas nunca também se valorizou tanto efetivamente o trabalho individual. O colega não é mais meu aliado e parceiro, é meu competidor e concorrente.

*Wagner Siqueira é o atual Presidente do CRA-RJ Conselho Regional de Administração RJ; membro do Conselho de Administração do IBAM e do CIEE-RJ; autor de mais de uma dúzia de livros, dentro os quais “As Organizações São Morais?”, “Gerentes que Duram”; “Estratégias de Intervenção em Consultoria”; “Os Fariseus de uma Certa Esquerda”, “Seitas Organizacionais”.

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Célia Maria Corrêa Pereira
Célia Maria Corrêa Pereira
10 meses atrás

Constatação precisa da realidade do Adm Wagner Siqueira.
Penso, que mergulho exagerado nas redes sociais vem formando uma dura barreira contra o completo exercicio do sensorial. As pessoas vão deixando de lado a experiência da troca dos sentidos do olhar, do olfato, da audição, do sentir a pele e o gosto do outro. A artificialidade na convivência vai se tornando mais forte e mais fácil.
Será que um dia reagiremos como animais que se estranham no contato físico? Certamente, uma mudança nos relacionamentos corpo-a- corpo está ocorrendo; o confronto pessoal está ameaçado.

Célia Maria Corrêa Pereira
Célia Maria Corrêa Pereira
10 meses atrás

Constatação precisa da realidade. O mergulho exagerado nas redes sociais vem formando uma dura barreira contra o completo.exercicio do sensorial. As pessoas vão deixando de lado a experiência da troca dos sentidos do olhar, do olfato, da audição, do.sentir a pele e o gosto do outro. A artificialidade na convivência vai se tornando mais forte e mais fácil.
Será que um dia reagiremos como animais que se estranham no contato físico? Certamente, uma mudança nos relacionamentos corpo-a- corpo está ocorrendo; o confronto pessoal está ameaçado.

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