Esses pseudolíderes da nossa realidade apenas acompanham tendências e fazem da inautenticidade a prática do cotidiano.
Essas duas vertentes, de degradação das organizações e escassez de liderança, são confluentes e se retroalimentam, já que os nossos gerentes são incapazes de perceber além do trivial e do imediato, do dia a dia, do arroz com feijão. E quando por um acaso do destino surgem tais guias, não sobrevivem. Pois, são castrados pela atual sociedade de mercado e as organizações continuam, assim, repletas de gerentes e de executivos, mas vazias de líderes.
A falta de representatividade e de um epicentro em que possa desenvolver seu talento pode transformar o verdadeiro líder em um solitário, pois não encontra um contexto de líderes autênticos, onde possa se sentir mais forte e confortável, onde possa aprender com os outros e ensinar também aos outros. E sim, uma corriola de abúlicos, envolto por um bando de carneiros de balido sonoro e pelo sedoso. Desta forma, torna-se ainda mais difícil identificar o verdadeiro líder, já que na medida em que sua autoridade e autonomia se acham cada vez mais corroídas por forças organizacionais, políticas e sociais, culturais e institucionais sobre as quais ele exerce pouco ou nenhum domínio.
Com esse panorama pouco favorável, as organizações se tornam locais vazios de lideranças, como se a humanidade estivesse pouco a pouco perdendo o controle de seu próprio destino. Todavia, foi-se o tempo em que o líder podia realmente liderar. E decidir. Hoje seus gerentes e executivos, ainda equivocadamente chamados de líderes, acham-se acorrentados ou manietados por inúmeros limitações. São obrigados pelas organizações a se atrofiar, pois as concessões reiteradas em busca da sobrevivência das organizações tolhem, debilitam e desgastam as verdadeiras lideranças.
Em razão disso, esse cipoal de controles e de constrangimentos (mesmo quando bem-intencionados) leva inelutavelmente à construção de organizações lobotomizadas.
Veja bem, também não podemos banalizar as restrições das organizações apenas à falta de lideranças. É extremamente complexo, na prática, distinguir o erro honesto do intencional ou deliberado. Correr um risco legítimo pode levar um executivo à cadeia. Por outro lado, “jogando no seguro”, só fazendo o “politicamente correto”, não correndo qualquer risco, muito menos ousando, ficando sempre na onda, como uma “Maria vai com as outras”, uma instituição, um líder ou um profissional podem evitar o erro e a crítica, e se, continuarem assim na conformidade serão provavelmente promovidos por nunca se exporem, se bem que à custa de renunciar a viver. Exaltamos a ode à omissão, à autoproteção, à exacerbação do líder factoide, que teatraliza uma competência gerencial que efetivamente não possui.
Esses pseudolíderes da nossa realidade apenas acompanham tendências e fazem da inautenticidade a prática do cotidiano. Pensam que na arte da guerra, em vez de se dedicarem à estratégia do ataque e do avanço, da luta de conquista, preferem posições conservadoras das trincheiras de autodefesa.
Líderes fictícios não estão mais à altura do tamanho das crises que vivemos. Focados no maquiavelismo do sucesso pessoal não titubeiam diante das repercussões inadequadas que suas ações possam ocasionar aos circunstantes, principalmente às organizações a que prestam serviços. E, assim, nesta seara em que vivemos já não existem mais líderes para empolgarem e guiarem as instituições que efetivamente se defrontem com as crises do nosso tempo.
*Adm. Wagner Siqueira — Presidente do Conselho Federal de Administração
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