Um dos mais flagrantes equívocos gerenciais que conheço no mundo das organizações é tentar resolver problemas de comportamento por meio de soluções e estratagemas estruturais e funcionais. A perspectiva organoprogramática (ou até mesmo funcionalista) oblitera a identificação e equacionamento do verdadeiro problema.

Outro equívoco – justamente o inverso – é recorrer a soluções de natureza comportamental para resolver questões estruturais. Neste ponto, as soluções vão até o limite do absurdo de considerar que “vaca feliz é que dá bom leite”.

Os estruturalistas acreditam viabilizar suas estratégias por várias maneiras. Por exemplo, pela autonomização de funções e consequente desmembramento de órgãos e atribuições, com o objetivo manifesto de racionalização estrutural-funcional; se bem que o verdadeiro e implícito propósito é liberar do controle certas funções que reclamem liderança mais efetiva.

Defendem a criação de órgão “mais nobre e enriquecido” (geralmente na nobreza vazia dos sarcófagos mumificados), que exige a singularidade da experiência exclusiva do dirigente a ser “condecorado” para dar lugar a outro na condução das atividades. Muitas vezes, atribuem “missões especiais”, normalmente sem metas e resultados mensuráveis, cujos heróis devem inelutavelmente reportar diretamente ao Presidente a fim de conferir nobreza aos que vão realizar as novas funções. Curtos-circuitos artificialmente legitimados por uma situação de crise também costumam garantir, em caráter excepcional, a transferência de atribuições e missões diretamente ao Presidente. Não importa qual seja a solução, o fato é que soluções estruturais para problemas de comportamento implicam sempre disfunções inalienáveis para a realidade organizacional.

Já os comportamentalistas têm o mau hábito, oriundo de concepções equivocadas, de quem quer resolver todos os problemas pela via da motivação e da atitude. Esquecem-se que, o mais das vezes, a sinergia de uma equipe de incompetentes tem como resultado a incompetência ao cubo, por melhor que seja a estrutura.

Todas as soluções comportamentalistas guardam sempre a mesma característica: dependem de personalidades especiais, de gerentes exímios, dedicados e tolerantes.

As expectativas messiânicas do líder salvador da pátria, contaminado pelo viés comportamental, geram pelo menos duas disfunções gravíssimas: dependências indevidas da organização em relação a ele, dirigente maior; e independências dele em relação à organização, também indevidas. É o convite ao autoritarismo de um líder “mandonista”, sob a capa, a ele muito conveniente, de vítima. Aliás, o “coitadismo” no Brasil é uma disfunção cultural.

O devido equacionamento do problema da gestão não está nem só na estrutura, nem só no comportamento; depende de ambos, simultaneamente.

Estrutura e comportamento são variáveis indissociáveis do processo de gestão. Formar quadros para novos processos consistentes de gestão requer enorme esforço em estrutura e comportamentos. Só assim se poderá vencer o enorme abismo que hoje existe entre a tecnologia (à velocidade orbital de que dispomos) e a cultura do carro de boi, que viceja no universo das organizações e da sociedade em geral.