É preciso gerar uma sociedade que garanta estabilidade ao processo de desenvolvimento do país. Temos que olhar para frente e não para o retrovisor.

Rio – Democracia e gestão pública precisam perpassar por todas as discussões, são conceitos que precisam ser repensados para que tenhamos uma gestão pública voltada, efetivamente, para o cidadão.

Nossa atual administração pública reflete uma situação acachapante: o estado acachapa as pessoas, quando deveria ser instrumento para repercussão dos desejos das atividades econômicas em prol do bem comum e do cidadão. Tal esforço resultaria em alguma acessibilidade, maior democratização, maiores voz e vez no Estado brasileiro.

Vivemos numa democracia em crise de legalidade, de legitimidade, de licitude, todas elas motivadas, sobretudo, pela escassez de liderança. Nunca se falou tanto em líderes e liderança, mas nunca se formou tantos gestores para a conformação e a rotina. Se o ambiente não for fértil, as terras não prosperarão.

 Outro problema é o descompasso entre tecnologia e a lógica das organizações. A tecnologia avança na velocidade da luz, mas a mentalidade das organizações anda no carro de boi. A exacerbação da dimensão tecnológica deforma a cultura das organizações.

As organizações são limitadas de inúmeras formas. Uma delas é a burocracia. Até para desburocratizar, o Brasil burocratiza. A erosão da autonomia institucional é tolhida, ainda, pelos órgãos de controle e por grupos organizados de minorias, que se mantêm apartados uns dos outros.

As forças externas que invadem e dominam o âmbito de nossas instituições, concomitantemente, com o cipoal de exigências burocráticas, o mais das vezes contraditórias, são as causas originárias da perda de autodeterminação de nossas organizações e de suas reais lideranças.

Assim, as organizações são obrigadas a hipertrofiar a sua dependência às estruturas externas de apoio e de prestígio para poderem navegar em mares tão turbulentos. As concessões reiteradas em busca da sobrevivência tolhem, debilitam e desgastam as verdadeiras lideranças.

E qual o paradeiro do líder? A população busca por um “Sassá Mutema” ou um “caçador de marajás” e, nessa busca, pode acabar elegendo pessoas sem o perfil desejado para cuidar do Brasil. Nas empresas, os líderes de verdade, raramente, sobrevivem a um sistema castrador. O excesso de controle, mesmo que bem-intencionado, conduz às instituições lobotomizadas. O custo do controle é maior que o risco.

É preciso gerar uma sociedade que garanta estabilidade ao processo de desenvolvimento do país. Temos que olhar para frente e não para o retrovisor.

Wagner Siqueira é presidente do Conselho Federal de Administração e colunista do DIA