Desde a década de 1930, é comemorado no dia 23 de abril o ‘Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor’. A data foi escolhida pelo governo espanhol, devido à morte do escritor Miguel de Cervantes, autor célebre de ‘Dom Quixote’, muitas vezes considerado o primeiro romance moderno, e depois referenciado pela Unesco. Um culto justo ainda presente a um dos grandes nomes da literatura mundial. No entanto, infelizmente, o mesmo não acontece na área da Administração e da Gestão, onde venho percebendo, há muitos anos, o quão pouco é lido clássicos do assunto.
Essa é uma questão que vem ganhando força à medida que indago alunos de Administração em palestras que realizo por todo o Brasil. Lamentavelmente pouco se conhece das obras escritas pelos fundadores da Ciência da Administração, de Taylor a Drucker, de Ford a Mintzberg, de Guerreiro Ramos a McGregor, e por aí vai; isso sem falar em inexcedíveis obras de outras disciplinas, como Economia e Sociologia que também têm, por exemplo, em Adam Smith e Max Weber respectivamente, ensinamentos que contribuem para configurar o pensamento administrativo.
Procurando entender as causas desse problema, descubro que o volume de visitas às bibliotecas é ridiculamente pequeno para leitura. “Esses ambientes são mais utilizados para trabalhos em grupo ou leitura de textos”, me garante a bibliotecária de uma faculdade. Um professor, atento observador do movimento no campus, tem a sua tese: “Os alunos chegam corridos do trabalho depois de enfrentar horas no trânsito, entram em salas de aula esbaforidos e depois correm para casa para começar tudo novamente no dia seguinte. Não têm tempo para leituras além dos textos compilados nos quais as provas vão se basear”. O mais estarrecedor talvez seja um depoimento de que a maior parte das faculdades de Administração procura manter no acervo de suas bibliotecas livros de autores que publicaram nos últimos cinco anos. “Fica mais atraente no momento da visita do MEC à instituição de ensino”, atesta um coordenador de curso que também atua como avaliador do Inep/Mec. É triste saber que muitos dos futuros administradores terão lido não mais do que duas ou três páginas dos tratados escritos por Maslow, Herzberg, Chester Barnard, Blanchard, Alfred Sloan, Robert Blake, dentre outros inúmeros mestres da Administração.
Assim ficam esses profissionais limitados pela visão estreita e fragmentada que lhes é apresentada por diversos livros de Introdução à Administração e de TGA que, portanto, lhes roubam a oportunidade da imersão reflexiva e da elaboração de novas perspectivas a partir dos experimentos e construções apresentados por autores clássicos. É verdade também que ao lermos os clássicos e os bestsellers vamos encontrar, nestes últimos, muitas ideias que nos remetem aos estudos desses preconizadores da Ciência da Administração, embora nem sempre referenciados pelos novos autores.
Por tudo isso, é uma importante missão do Sistema CFA/CRAs o compromisso de contribuir para reverter esse contexto de desalento que grassa na cena organizacional globalizada. É preciso a republicação e a leitura dos textos clássico de Administração, obras perenes que consolidaram ontem e reafirmam hoje a Administração como ciência, técnica e arte.
É preciso um despertar de consciência daqueles que atuam equivocadamente, por absoluto desconhecimento de alternativas de comportamento, de processos, de métodos, de ideologias gerenciais e de teorias mais adequadas, que possam conduzir o mundo corporativo a retomar o seu rumo de busca da excelência organizacional via a obtenção simultânea da otimização de resultados e da automotivação humana para o trabalho.
Certamente, a maior surpresa para muitos será conhecer em primeira mão os postulados doutrinários do fordismo e de suas ideias pragmáticas, sobre os quais muitos falaram, escreveram e ensinaram sem nunca ter tido acesso direto. O que se constatará em cada página de leitura desses clássicos é que muitos eram incrivelmente avançados para a época e ainda conseguem ser inacreditavelmente atuais e necessários aos dias de hoje.
Boa leitura, portanto, a todos! E muitas reflexões, concordâncias e discordâncias, inferências e ilações à realidade vivenciada de cada um!
A leitura dos clássicos é indispensável a formação de opinião do profissional e imprescindível ao diferencial de conteúdo agregado.
É uma lástima identificar tal perfil comportamental e de pouco interesse dos graduandos em gerar valor em suas leituras, alinhado à sua profissão àqueles que a construíram e hoje a ciência indispensável.
Sim, Francisco , como diz Monteiro Lobato: quem mal le , mal ouve, mal fala, mal vê.
Muito obrigado mesmo pelo percuciente comentário